Por: Everton Moura
Podemos gerar angústia e vender relaxamento, gerar ausência e vender sonhos. Podemos VENDER E VENDER o que quisermos desde que geremos insatisfações antes. E aí vendemos a satisfação, atacamos os desejos. E está feito, vamos COMPRAR.
Uma pena que isso é irreal, e a satisfação está em um lugar muito mais próximo, mais não conseguimos enxergar, que é o AMOR e a TROCA. Se olharmos no olho , o lazer é gratuito. Onde tem céu, tem sonho e plenitude, e não ele não cobra para ser olhado.
Quando não vemos mais a infinitude do céu, nem a textura da terra, a simetria folhas, o canto dos pássaros e a cor de suas asas, o trabalho das abelhinhas, a sensação da água do rio, a beleza da formação das pedras, o azedo das frutas e seus desenhos de fibras e caroços, o carinho sincero da nossa família - sem que haja necessária a troca incessante de objetos de presentes, a amizade e nada mais - a harmonia entre as pessoas e os outros seres, nós nos mantemos comprando. E nos mantemos insatisfeitos. E para a angústia, além dos produtos que vão "solucionar sua vida", ainda tem as soluções farmacêuticas. Viva a ciência!
E assim se faz o nosso sistema e a nossa infelicidade e carência são sua maior contribuinte. Nossa (des)organização social é a nossa falência mental e emocional.
Não queremos "jogar na cara" nada em ninguém, não queremos cantar "superioridade", nossa intenção é ajudar com base em exemplos. Queremos informar que não precisamos ir ao shopping, nem hoje, nem amanhã. Não precisamos "de nada", porque não precisamos comprar nada. Shopping não é lugar de passeio, existe um mundo (MUITO MAIS LINDO E SEDUTOR QUE VITRINES) lá fora. Te esperando com entrada franca e tempo ilimitado de permanência.
Nós nos olhamos nos olhos quando acordamos, nos acariciamos e ouvimos os outros quando se desesperam, permitimos e respeitamos as cóleras de cada um, por que ela passa, e quando passa, nós nos juntamos e cantamos, tocamos, cozinhamos juntos e comemos, e estamos sem perceber, nos amando e trocando e influenciando uns aos outros. E está aí o nosso prazer.
E a nossa noção em uma passarela de vitrines é única: como existem coisas no mundo das quais NÃO PRECISAMOS para sermos felizes. Existem muitas, e nós estamos realmente desapegados delas. Objeto é para ser útil, não para dar prazer. Prazer é muito mais profundo e raríssimos objetos (excluísse os sensoriais do sexo) tem a capacidade de nos oferecer isso! Obras de arte e instrumentos musicais, podem ser entendidas sim como objeto, mas eles oferecem prazer porque TRANSCENDEM a utilidade e dialogam com o inconsciente e com a alma à fundo.
Fora eles, o objetos são utilitários e supérfluos. Não deveriam ocupar o lugar dos nossos sonhos, não merecem o apelidados de "sonhos de consumo". Deveriam facilitar nossa vida e NADA MAIS! A POSSE DE OBJETOS JAMAIS DEVERIA SER O SENTIDO DELA.
O sentido dela é imaterial e indefinível. É tão profundo que nem uma lente biônica ou uma cavadeira elétrica é capaz de enxergar e atingir.
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